05 Fevereiro 2025

Como lidar com a dificuldade de dormir das crianças

Mudanças comportamentais bastam para ensinar os pequenos a dormir bem; mas diretrizes europeias liberam uso de melatonina em alguns casos

Distúrbios do sono são comuns em crianças e adolescentes e representam um motivo frequente para consultas pediátricas. Embora um número muito pequeno desses grupos sofra de algum problema específico do sono (como apneia obstrutiva, síndrome das pernas inquietas ou narcolepsia), é cada vez mais comum que o público dessa faixa etária tenha insônia. O termo engloba dificuldade para adormecer, de manter-se dormindo ou ter despertares precoces, que ocorrem apesar de um ambiente de sono adequado.

Para que um quadro seja caracterizado como transtorno crônico de insônia, ele deve acontecer mais do que três vezes na semana e durante um período superior a três meses. Sabe-se que que dormir de 30 a 60 minutos a menos por noite reduz significativamente a qualidade de vida relacionada à saúde e, quando isso se torna um problema persistente, impacta o funcionamento emocional, comportamental e cognitivo dos pequenos.

Por trás do sono inadequado podem estar fatores como tempo excessivo de tela, hábitos alimentares pouco saudáveis e obesidade. Os efeitos ainda se expandem para o funcionamento e bem-estar de toda a família.

No Brasil, não há dados oficiais sobre problemas de sono em crianças. A Associação Brasileira do Sono (ABS) trabalha com dados europeus e dos EUA que estimam que a prevalência da insônia pediátrica varia de 15% a 30% em crianças pequenas (3 a 5 anos), de 11% a 15% na idade escolar (6 a 12 anos) e de 20% a 30% em adolescentes.

Essas porcentagens são consideradas alarmantes, especialmente levando em conta as consequências do sono insuficiente nessas faixas etárias.

Desafio para os pais

O manejo da insônia infantil é um desafio para pais e especialistas em sono. Na maioria das vezes, o problema é exclusivamente comportamental: os hábitos da criança e até da família influenciam. O tratamento padrão-ouro nesses casos envolve a higiene do sono (que inclui estabelecer rotina, ir para a cama mais cedo, apagar as luzes e evitar telas, por exemplo) e, principalmente, mudanças comportamentais, que muitas vezes só são alcançadas com ajuda da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).

Melatonina: sim ou não?

Especialistas da Europa atualizaram as diretrizes para os cuidados da insônia em crianças saudáveis, sem nenhum problema neurológico ou de desenvolvimento, em documento publicado recentemente no Jornal Europeu de Pediatria.

Eles reforçam a importância da higiene do sono, da mudança de hábitos (inclusive com uso do diário do sono) e da terapia cognitivo comportamental como primeiras opções para auxiliar os pais nessa tarefa de regular o sono dos filhos.

De acordo com a médica da ABS, a melatonina pode ser recomendada como adjuvante do tratamento de crianças com algum transtorno de desenvolvimento, como transtorno do espectro autista (TEA), ou alguma outra alteração de neurodesenvolvimento que possa atrapalhar o descanso noturno.

Nos casos em que já estamos em tratamento e vemos que a família está exausta, a tentativa de dar melatonina para melhorar a estabilidade do sono é válida. Mas, como qualquer medicação, ela pode ter efeitos colaterais, por isso temos de monitorar muito de perto e, no caso de crianças, usar doses bem baixas”, ressalta Rosana Alves.

Fonte: metropoles.com

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